Nós quatro levantamos e fomos tomar café da manhã em uma cafeteria próxima à casa de Jack. Catarina e Mike estavam realmente envergonhados, provavelmente porque hoje, quando saímos da cama, havia oito pacotes vazios de camisinha espalhados ao pé da cama dos dois - prefiro pensar que eles encontraram algumas furadas e descartaram antes de usar. Volta e meia trocavam risinhos e cochichos, o que fez com que nós quatro caíssemos na gargalhada depois que Mike foi, ao que parece, cheirar o cabelo de Cat e acabou fungando que nem um porco assustado.
Amanda é genial; realmente o contrário das patricinhas burras que eu tinha em mente. Ela faz medicina, e é uma das melhores da turma. Já assistiu à grandes cirurgiões operarem casos bem complicados mesmo faltando cinco anos para se formar, enquanto Cat faz artes plásticas, e estando apenas no primeiro ano, já organizou exposições de sucesso que atraíram grandes nomes no ramo das artes.
Como hoje é feriado, resolvemos passar o dia juntos. Passamos em uma locadora e alugamos vários filmes, entre eles a trilogia O Homem de Ferro, O Sexto Sentido, O Silêncio dos Inocentes, Dragão Vermelho, os três últimos filmes do Batman (uma trilogia realmente boa) e por fim, um filme chamado 10 Coisas que Odeio em Você, que tanto Amanda, quando Mike e Cat juram que sou idêntico ao personagem do Heath Ledger, Patrick.
Fomos à farmácia porque o Mike queria comprar algo, que eu sabia muito bem o que era, já que o estoque dele tinha acabado na noite anterior. Aproveitei e comprei também, enquanto as garotas esperavam do lado de fora. Partimos para a casa do Mike, e nos instalamos na grande sala de TV. O chão era todo cheio de almofadas macias e a tela devia ter umas noventa polegadas, o que fez com que todos se sentissem em um cinema particular. Começamos com a sessão de filmes, e aproveitei para ficar juntinho à Amanda, de quem eu gostava cada vez mais. Já não pensava mais na Anna, e acabei de sentindo um pouco culpado.
Nossos lábios já estavam inchados de tantos beijos, quando a sala ficou gelada repentinamente.
"Estranho, lá fora continua o maior solzão..." comentou Mike ao verificar o termostato. Eu abracei fortemente a Amanda quando ela começou a tremer, e ela abriu um sorriso de volta. Minha cara ficou séria de uma hora para a outra, quando ouvi um sussurro vindo da sala ao lado. "David..." era a voz. O que me espantou foi o olhar assustado da Catarina em minha direção.
"O que foi isso?" ela perguntou. Mike e Amanda não haviam ouvido, e olhavam-nos sem entender enquanto Cat e eu nos encarávamos paralisados. "David, me ajude!" sussurrou a voz novamente. Catarina correu até o Mike e se escondeu atrás dele. Eu me levantei e caminhei lentamente até a porta da sala, de onde eu poderia ter uma boa visão da outra sala. Algo chamou minha atenção em uma estante ao lado da porta da sala onde havia apenas sofás, estantes e quadros nas paredes. Quando saí da sala de TV, as portas bateram com tudo e quase morri do coração. Caí no chão com o susto, enquanto ouvia os gritos horrorizados dos três que estavam dentro da sala ao lado. Levantei-me e agarrei as maçanetas, que estavam petrificadas. Além de quase queimar minhas mãos de tão geladas, não moveram-se nem um grau. Então um sopro gelado passou por minhas costas e o chão estalou. Ouvi os murros que os três davam nas portas do outro lado na tentativa de abri-la, e virei-me devagar para encarar o que estava atrás de mim. Havia uma cruz mais ou menos da metade do meu tamanho levitando a cerca de três metros da minha cara - de ponta cabeça. A cruz começou a ranger e eu fiquei parado, sem saber o que fazer. Então, como se uma pequena bomba vivesse em seu interior, a cruz explodiu um várias lascas de madeira que voaram em minha direção. Nem tive tempo de colocar os braços sobre meu rosto; as lascas os atingiram e às minhas pernas também, me prendendo à porta; provavelmente atravessaram a mesma, já que vários berros se seguiram atrás de mim. Guinchei de dor ao olhar para baixo, o sangue escorria de meu corpo e formava uma poça no chão, que já passava por baixo da porta. Felizmente, nenhuma lasca atingiu meus órgãos vitais, nem meu rosto. Eu fiquei muito furioso com aquele espírito. "Mas que merda! Primeiro pede ajuda e depois tenta me matar? Espírito filha da puta!" berrei cuspindo de raiva. Preciso lembrar, querido diário, que discutir com um espírito não é a coisa mais sensata a se fazer, mas eu não estava fazendo o mais perfeito uso de minhas faculdades mentais. Parece incrível, mas as lascas foram arrancadas de meu corpo no momento em que disse aquilo, e desabei no chão sobre a poça de sangue, com uma dor lancinante atravessando todo meu corpo. "Ótimo! Arranca esses caralho assim que eu morro mais rápido de hemorragia, sua anta!" berrei novamente. Um silêncio se seguiu, por fim o calor voltou ao ambiente e as portas se abriram atrás de mim. Continuei cabisbaixo, tentando controlar a dor cortante.
"Oh meu Deus..." disse Amanda num sussurro "... David... Oh meu Deus..." ela começou a chorar descontroladamente e correu até mim. Levantei a cabeça; foi quanto todos viram que eu não estava morto e correram em minha direção. "Nem pra pedir desculpas!" ainda berrei, com toda a razão do mundo. Eu definitivamente não estava em pleno gozo das minhas faculdades mentais. Mike e Cat me observaram horrorizados, e eu vi que uma das janelas da sala de TV havia sido quebrada aparentemente com o braço do Mike, que estava todo ensanguentado. Havia tantas almofadas naquela sala que poderiam ser usadas para proteger o braço... Tudo bem, era um momento de desespero.
Os três me levantaram da poça de sangue e me embrulharam com toalhas que Catarina buscou no banheiro, feito isso, fomos ao hospital. E é aqui que estou agora, com os braços e pernas enfaixados. Pouco antes, o Mike apareceu na janelinha do meu quarto com cara de gorducho quando vai roubar comida. Suspeitei, então a Amanda entrou vestida de enfermeira - já que eu ainda não posso receber visitas de fora.
Ela veio rebolando e levantou a saia do vestidinho branco mostrando a meia arrastão e a calcinha vermelha que estava usando. Eu só consegui dar risada. Ela disse que o Mike e a Cat estavam cuidando do corredor, então ninguém nos atrapalharia. Eu não entendi muito bem logo de cara, já que não posso fazer muita coisa com esses braços e essas pernas paralisados - a não ser escrever. Então ela falou que eu precisava de uma enfermeira para animar meus ânimos e que eu não precisaria fazer nada, ela cuidaria de tudo. Ah, aí eu entendi. Cara... eu amo essa garota. Ela colocou o negócio que mede minhas batidas cardíacas no próprio dedo, já que as batidas frenéticas do meu coração logo trariam alguma enfermeira de verdade para verificar o problema. Então puxou minha coberta, expondo essa camisola de hospital ridícula, que possui uma coisa boa afinal: Amanda a puxou e ela saiu como uma pena. Eu estava com as mãos atadas - literalmente, e não pude me defender. Coitado, pobre David...
Ela pulou em cima de mim e muitos minutos depois estávamos rindo na tentativa de recolocar minha camisola que parecia não querer entrar no corpo violado, deflorado. Eu acho que vou dormir um pouco agora.
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